Enquanto assistia a sessão da tarde na televisão uma senhora por volta de seus sessenta anos é surpreendida por uma mensagem de plantão.
“Caros telespectadores, interrompemos o filme ‘Um Morto muito Louco 4’ para informar que meteoros estão vindo em direção à terra e vão colidir em apenas alguns minutos resultando no fim do mundo. Alguns abrigos já estão sendo organizados por toda a cidade, mas sinceramente achamos que de nada irá adiantar. Recomendamos que todas as pessoas aproveitem seus últimos minutos com calma e sem entrar em pânico.Obrigado.”
Logo após o aviso Andréia se levanta e vai à janela. Em questão de segundos o que parecia uma bola de gude vermelha cresceu e explodiu a algumas quadras. Fogo e caos começaram a se espalhar pela cidade e enquanto vários tremores afetavam a terra a senhora correu. Agarrou um pequeno livro de telefones e procurou um número. Logo em seguida discou discou rapidamente.
O telefone toca uma vez. Outra vez. Três. Hesitantemente a mulher vai colocando o telefone no gancho quando ouve uma voz. Coloca o receptor no ouvido:
-Alô? Alô? ALÔ? – uma voz ofegante e estridente
-Dolores?
-Quem é? – sons de explosões e gritos podem ser ouvidos ao fundo
-Sou eu Andréia. Tudo bem?
-Andréia…?
-Andréia da faculdade.
-Déiazinha! Reconheci sua voz agora. Como você ta?
-Ah eu to ótima e você amiga?
-Melhor não poderia estar. Meu casamento ta ótimo, eu moro com o homem que eu amo e meus filhos são lindos. E você?
-Eu estou be – de repente do outro lado da linha criança grita: “Mãe! Vamos sair daqui! Ta tudo pegando fogo! Mãããããããe” “Cala boca muleque, não vê que eu to falando no telefone?” O som da linha fica mais abafado, mas ainda é possível ouvir. “Arnaldo para de beber cerveja e pega o garoto chorão aqui! EU TO NO TELEFONE!” os gritos soam em um tom completamente histérico e estressado.
-Dolores?
-Oi Dédé meu amor, desculpa pela demora, o cachorro tava latindo aqui e eu tive que soltar ele do canil.
-Ah tudo bem. Eu só estava dizendo que comigo está tu-
-Mas você me ligou por que mesmo? Eu sei que a nossa amizade permanece firme como sempre, mas eu queria saber se você ta precisando de algo.
-Na verdade estou. Eu tava ligando pra te pedir de volta aquele brilhante de diamante que eu te emprestei pra ir na festa da empresa do seu marido.
-Qual?
-Aquele do coração em forma de diamante, com os detalhes folheados a ouro.
De repente em explosão ecoa do lado da linha de Andréia.
-Dédé? Que isso?
-Ah foi nada, a empregada derrubou a geladeira – Andréia observa o estrago do meteoro que caiu na sua rua pela janela. Janelas estraçalhadas, pessoas gritando e muito fogo.
-Eu acho que posso te devolver esse brilhante. Mas pode ser semana que vem?
-Olha não fica triste, mas é que eu queria esse brilhante agora. Ele era da minha mãe e significa muito pra mim.
-Pede um pro seu marido, ele é rico e pode te dar um muito mais bonito.
-Você sabe que eu sou viúva Dolores. – um tom sério permeia a ligação.
-Ah foi uma brincadeira. Então você quer ele hoje, né? Eu vou falar pro meu marido passar ai depois do trabalho. – “Num vem com papo pra cima de minha não Dolores! Você sabe que eu to desempregado!” “CALA BOCA REX! ”
-Desculpa, é o cachorro que ta com fome aqui.
-Então hoje ele deixa aqui? –Andréia testa a mentira de Dolores.
-Isso mesmo…lá pelas dezoito horas ele deve passar ai.
-Tudo b-
-Mas foi ótimo ouvir de você Dédé. Estou feliz que esteja tudo ótimo com você. Vamos sair um dia desses amiga.
Um estranho barulho de ligação chiada começa a surgir e cada vez ficando mais forte.
-Dolores? Dolores? Você não sabe meu endereço.
Os bipes de ligação cortada ecoam pela linha.
Andréia calmamente pega uma caneta vermelha e risca o nome de Dolores de uma lista de vários outros nomes já riscados.
-Nunca gostei daquela vaca.