Sexo Experimental no Wii

9 02 2009

Dark Room Sex Game pode não ser dos títulos mais elaborados, mas certamente é um experimento audacioso. Não é todo dia que um jogo “erótico” é desenvolvido para o Wii, apesar das inúmeras piadas em função do Wiimote, e há aqueles – como eu – que enxergam vários outros atributos. O jogo foi enviado para a Independent Games Festival (IGF) desse ano e por ser considerado um “party game” merece destaque. Eis o porquê:

Dark Room Sex Game foi desenvolvido a partir do Nordic Game Jam – evento anual de criação de protótipos de jogos, sediado na IT University of Copenhagen, durante o período de um fim de semana. Tomando por base a temática obrigatória “taboo”, os criadores chegaram no resultado que é um jogo para até quatro pessoas, no qual os jogadores precisam sincronizar os seus ritmos até eventualmente atingir o orgasmo. O diferencial é que não há qualquer representação visual. Apenas o som e a vibração do controle indicarão erros e acertos.

De acordo com os desenvolvedores, essa decisão foi tomada com a finalidade de criar uma situação humorada e constrangedora entre os jogadores. Com uma tela preta, a atenção dos olhos se volta para as outras pessoas participando e os seus gestos comprometedores. Prevalece a imaginação de cada um e não mais estão quatro pessoas reunidas observando fixamente interfaces digitais, como em Rock Band por exemplo. Da mesma forma, cada jogador precisa treinar o seu ritmo individual acompanhando a gradação.

Dark Room Sex Game pode ser baixado no site, tanto para Windows como Mac OSX. Mesmo que o jogo propriamente dito não esteja disponível no console Wii, os Wiimotes são compatíveis com os computadores via conexão bluetooth. De acordo com os seus criadores, o jogo pode ser visto como um comentário a respeito da atenção dada ao aspecto visual tanto no âmbito sexual como dos videogames ou simplesmente como um bom jogo para várias pessoas.

Eu encaro das duas formas, além de ser um importante experimento.

Fonte: Game Career Guide





Pela Primeira Vez

25 02 2008

A escuridão no céu revelava que o sol já tinha se posto há tempo. No chão, o luar iluminava todo o jardim e apenas poucas sombras eram formadas. Na penumbra, ao lado de uma imponente macieira, dois pálidos corpos conversavam deitados na grama.

– Então hoje temos a noite livre? – perguntou a figura masculina.
– Não, mas é só ficar de olho na casa. Não é tão ruim. – responde a garota de jovem aparência
– Ah. O Paulo sabe se virar. Ele não precisa de duas babás.
– Eu tenho minhas dúvidas. – a garota beija o homem no canto da boca e começa a se levantar – Quando voltarmos a gente continua.

O sorriso de Samara era quase hipnotizador. Ela não precisou oferecer a mão para Julio. Ele já a acompanhava na mesma velocidade, escalando a árvore e subindo de galho em galho logo atrás.

Achando um galho maior e chato, no topo da árvore, Samara verificou se havia espaço para Julio. Não era dos galhos mais confortáveis de se sentar, mas ele parecia agüentar ambos e a visão da velha casa na distância era ideal.

– Será que vai demorar muito? – a pálida pele dos dois refletia a luz da lua.
– Sei lá Julio. Você lembra como foi a sua primeira vez?
– Quê? Me testando, é? Faz muito tempo, mas eu lembro sim. Foi com você. – ele sorri com o canto da boca.
– Pelo menos isso você lembra. – uma inevitável risada escapou da boca da garota de olhos castanhos.

O silêncio perdurou por algum tempo enquanto ambos procuravam identificar qualquer movimentação na casa por dentro de suas largas janelas antigas. O luar facilitava a tarefa ao iluminar a casa e o gigantesco quintal da mesma. Entre o pálido casal e a casa ficava o que devia ter sido um luxuoso jardim em tempos passados. Atualmente, um emaranhado de plantas e capim dominava o que deveria ser terreno suficiente para um campo de equitação.

– Sabe o que não entendo? – Julio pouco se importava se queria ou não conversar. A indagação dele soava ingênua e natural, como se aquela dúvida fosse solucionar a razão da sua existência. – Como que até hoje nunca investigaram o casarão? É um ótimo lugar. Funciona e funcionou muito bem pra gente, mas é impossível um pai nunca ter suspeitado que sua filha puritana tenha vindo para um lugar desses em busca de privacidade.

– E é por isso que eu digo que você é esquecido. Meu pai veio me procurar aí.

A expressão facial de Julio era impagável. Seus olhos entreabertos xingavam Samara de mil nomes sem nunca falarem uma palavra.

– Isso foi há –
– Eu sei, muitos anos. Ainda assim, felizmente naquela época a polícia não deu muita bola pra ele. Hoje em dia isso não acontece mais porque o terreno é particular.
– Você que pensa. Hoje em dia é fácil demais, mas a gente pode estar sendo investigado e nem sabe.
– Não. É fácil e tranqüilo porque a gente não comete erros. Porque a gente não chama atenção. Por que você acha que a gente geralmente vem aqui vigiar? Sempre que um casal entra na casa, alguém tem que ficar de guarda do lado de fora. Além do mais, nunca deixamos qualquer ras –

Um grito feminino distante cortou o ar e o diálogo.

– Até agora. – Julio não perdeu a oportunidade. Seu sorriso era sarcástico.
– Paulo… – Samara comentou olhando para casa com olhos prestes a pegar fogo.
– Deixa ele. Você se irrita com facilidade. É normal errar quando se é inexperiente.
– Mas pelo grito da garota parece que ele não tem idéia do que faz.
– Calma…acontece nas melhores famílias.
– Exato e se sujar o nome da nossa eu mato ele. De novo.

A idéia de instigar a tempestade em copo d’água criada por Samara não apetecia Julio, então ele optou por ficar calado. Ainda assim, ele sabia que ela tinha alguma razão.

O silêncio retorna, dessa vez constrangedor. Todos os dois observando atentamente os arredores.

Julio toma a iniciativa e diz:

– Vamos lá ver se está tudo bem.
– Por que a preocupação repentina?

Julio aponta rapidamente para a estrada que tangencia o terreno da abandonada casa. Em razão da distância, apenas se pode ver o fraco piscar alternado de luzes vermelhas e azuis por entre o matagal do quintal.

– Eu sabia que ele ia fazer merda. – Samara resmunga.

Usando a noite como refúgio o casal rapidamente deixou a árvore. Um largo pulo e metade da distância até a casa já tinha sido coberta. Por entre as sombras a outra metade foi alvo de uma ligeira corrida. A escuridão como o perfeito disfarce.

Chegando à entrada, ambos pouparam tempo pulando e entrando por uma janela no segundo andar.

– Paulo! – a voz de Julio se propagava com facilidade por entre a madeira velha e os corredores vazios.
– Aqui. No quarto. – a distante voz respondeu.

Julio e Samara chegaram à porta do quarto e analisaram a situação. Um grande e antigo cômodo em que tudo era velho e decadente. O chão de madeira rangia e a quebrada maçaneta da janela mostrava que ela não tinha sido aberta em anos, assim retendo o cheiro de poeira e mofo.

Exceto pela cama. Uma gigantesca e conservada cama pairava no meio do quarto. A madeira da sua estrutura brilhava e os lençóis cheiravam a amaciante. No centro do colchão, iluminada pelo luar que atravessava a janela, deitava uma jovem envolta em um fino lençol roxo. O que o lençol não cobria, revelava ser um escultural corpo nu, mas de coloração estranha que parecia perder vida e ficar pálido.

Paulo terminava de vestir sua calça quando Samara exigiu respostas:

– Ela tá viva? – a autoridade era audível.
– Depende de o que você considera “viva”. – Paulo respondeu sem perder a oportunidade e o senso humor.

Enquanto Samara se aproximava do corpo, Julio continuava com as perguntas:

– Por que ela gritou?
– Não sei. Estava tudo bem. Estávamos abraçados e nos beijando e de repente o olhar dela mudou. Parou de sorrir e gritou. Eu não sabia o que fazer e mordi.
– Idiota. Ela viu seus dentes. Seu olhar pervertido também não deve ter ajudado muito.

Julio desvendou o mistério com facilidade.

– Ela está com um pulso fraco. Deve acordar em algumas horas, mas a gente precisa sair daqui. – Samara informa.
– Por quê? – Paulo indaga.
– Porque a sua gritaria chamou a atenção da polícia. Pegue os lençóis que eu vou carregar a garota. Samara lidera.

Paulo rapidamente puxa os lençóis da cama, desenrola o que ainda está preso ao corpo da garota e coloca tudo debaixo do braço. Samara abre a janela com um forte e preciso chute. Julio ajeita o corpo feminino sobre o seu ombro e observa a profunda marca de dois dentes caninos marcados no pescoço. Dois buracos quase idênticos, simétricos e eqüidistantes sem qualquer indicativo de sangue vazado ou uma área dolorida em volta.

– Apesar de tudo, Paulo, foi uma bela mordida. Nada mal para uma primeira vez.

Julio sorri com o canto da boca.

E em instantes a casa estava vazia novamente. Policiais perplexos deduziram ter sido um trote de jovens marginais. Sem as figuras pálidas, a casa voltou a ficar vazia como parecia estar pelas últimas centenas de anos. Camuflada para a civilização.





O Baile de Máscaras

13 07 2006

Como ela era linda. Aquele corpo escultural estendido na cama ao meu lado simplesmente significava que ao longo do tempo soubemos lidar um com outro para ao final nos encontrarmos completamente desmascarados. Exatamente como somos, sem nenhum escudo, como quando nascemos. Atingimos o ápice da sinceridade e nada poderia nos tirar essa vitória, por difícil que ela tenha sido. Nos tornamos livres, exatamente como sempre devia-

– Bom dia amor. – a voz dela interrompeu meu monólogo mental.

– Bom dia.

– Ficou me olhando enquanto eu dormia, é?

– Não resisti. – Aproveitei para brincar, nada melhor que começar o dia em um bom humor.

– Que lindo. Você sabe que eu te amo, né?

– Eu também te amo.

– Não, eu amo mais. Eu faria de tudo para estar com você. – Realmente nesses últimos meses eu nunca havia sido entulhado com tantos presentes e afeto. Tive a impressão que nunca conseguiria tirar aquela imagem meiga da minha mente.

– Lindinha, ta ficando tarde. Vamos levantar?

– Ah não. Fica só mais um pouquinho comigo vai.

Após algum tempo nos começamos a arrumar e até esse ponto nada de diferente havia ocorrido. Até o café da manhã:

– Amor, passa a manteiga por favor. Obrigada. Olha só, hoje vou te chamar pra minha sala durante o dia, mas não se espanta não, ta? Não vai ser nada demais.

– Sei. – Não agüentei e ri um pouco. – Na última vez que você fez isso a gente tentou disfarçar, mas até agora não sabemos se nos ouviram. Melhor nem arriscar dessa vez. Aqui a gente tem mais paz.

– Não precisa lembrar. Tenho a impressão que estão me olhando estranho agora.

– Ah! Que isso. Ai já é coisa da sua imaginação. Qual problema em você rir quando vai pra sala da chefe?

– Deixa pra lá. Só num toma susto hoje quando eu te chamar.

– Tudo bem. Vamos então?

– Pode ir na frente, eu vou chegar um pouco depois hoje porque ainda tenho que arrumar minha mala.

– Que desculpa. Eu espero então.

– Não. Vai na frente, não quero que você chegue atrasado.

– Você vai demorar tanto assim?

Ela me beijou e se despediu novamente para depois entrar no banheiro. Não tive paciência para discutir. Estranho porque semana passada ela disse que iria junto comigo, acabou me seguindo no carro dela e por motivo nenhum parou e em um sinal aberto. O caos no trânsito começou a ficar tão grande que eu decidi seguir em frente. Era quase como se ela não quisesse chegar junto comigo no trabalho.

A rotina seguiu normalmente a partir daí. No escritório, vulgo o famoso baile das máscaras, encontrei Carlos grande amigo meu de trabalho contando uma história para os novos estagiários.

– Vocês precisavam ver a cara de desespero do garoto quando eu reclamei que ele havia esquecido de organizar os arquivos em ordem cronológica. Ele começou a chorar e pedir desculpa. Nessa hora eu pensei, “esse garoto não sabe trabalhar e não presta” e esse foi o nosso último estagiário aqui.

Sem dúvida o rosto aterrorizado dos novos recrutas era impagável, mas ninguém sabia que ele havia tomado uma bronca também inesquecível do seu superior e que a história do estagiário era toda balela. Dei apenas dois tapas amigáveis nas costas dele e segui para meu cubículo.

No caminho encontrei com a adorável Edna. Provavelmente umas das funcionárias mais antigas na empresa e também em faixa etária, pois devia beirar seus 70 anos. Nunca entendi como ela não havia sido demitida porque desde que ela se divorciou do marido e perdeu uma boa quantia de dinheiro passou a atender muito mal pelo telefone. Era praticamente uma ironia colocá-la como funcionária do SAC e não era a toa que poucas reclamações passassem por ela e chegassem até alguém superior. Estranhamente fora do telefone era um amor de pessoa e sempre disposta, desde que ficasse evidente que de alguma forma ela era superior a você.

Uma breve troca de “bom dias” me fez caminhar em frente já que ela parecia ocupada ao inventar mentiras para o cliente falando que o sistema estava fora do ar e aumentando o prazo padrão para a entrega de documentos. Aquela clássica ladainha que é engraçada para quem está desse lado da linha e um inferno para quem está no outro.

Chegando ao meu pequeno recinto coloquei a pasta na mesa e comecei a trabalhar. Algum tempo depois com dois copos de café apareceu Tiago.

– E ai garanhão. Aceita um café?

Ri levemente peguei o café da mão dele e perguntei sorrindo:

– Come que é?

– Você sabe pô. Num me vem com essa cara de inocente. Todo mundo viu você saindo com um sorriso da sala da chefe.

– Que isso cara. Ela contou uma piada e eu ri. É proibido sorrir agora dentro do escritório, é? Ela só é minha amiga, fica tranqüilo. Sem essa de rosto inocente porque o meu apelido não é Santinho.

– Eita. Pegou pesado agora. – O apelido do Tiago era Santinho, afinal ele tinha uma tremenda cara de santinho mesmo. Poucos na verdade sabiam a pessoa tarada que era. Em ocasiões já cheguei a vê-lo com inúmeras mulheres em uma mesma noite. No entanto no escritório ele vivia uma outra personalidade chamada Santinho. Não é que fosse o capeta, mas escondia algo por trás daquela meiga face. No entanto enquanto costumava esconder o que fazia eu costumava divulgar. – Então quer dizer que num ta rolando nada com ela?

– Ela é minha amiga. Só isso. – Mas toda regra tem sua exceção. Eu disse “costumava”.

– Tudo bem. Eu acredito. Me diz uma coisa, o almoço ta de pé?

– Claro. Então até lá.

O trabalho teria seguido normalmente pelo resto da manhã se não fosse por uma esperada interrupção. O telefone tocou e era o meu convite para sala da chefe.

Era engraçado como eu podia sentir os cubículos me acompanhando com seus olhos enquanto eu caminhava corredor a baixo. Geralmente isso seria um momento de glória para mim, mas circunstâncias atuais me faziam colocar a máscara de garanhão de lado e reconhecer que não era proveitoso nesse caso. Nem sempre a fama exagerada dos meus feitos me colocaria em uma posição favorável e essa era uma dessas situações.

– Feche a porta por favor senhor.

Eu apenas sorri com a brincadeira dela e fechei a porta.

– Veja só meu estimado empregado. Apenas lhe chamei aqui para exigir um tratamento mais respeitoso da sua parte. De agora em diante meu nome não basta e nem mesmo me chame pelo clássico apelido de “chefe”. Coloque sempre o “doutora” antes de meu nome e preferivelmente use Souza, meu sobrenome.

Meu rosto perplexo e atônito descrevia exatamente como eu me sentia. Eu estava desmascarado e despreparado para aquele momento.

– Tens algo a dizer senhor?

Consegui balbuciar uma frase com dificuldade:

– Mas ninguém te chama assim aqui e você não perde respeito por isso.

– Pois então farei com que todos tenham certeza que eu não perderei meu respeito. Pode ir agora.

Não estava em condições de argumentar ou insistir. Foi um golpe baixo.

Sai da sala cabisbaixo e desanimado. Ela ouviria a minha bronca mais tarde, mas por hora, em prol da relação, eu seguiria com o plano mascarado dela.

No caminho de volta para meu antro labutário ouvi alguns colegas falando:

– Olha só. Ta vendo ele ali. Aquele tomou bronca da chefe. Deve ter feito alguma besteira e todo mundo sabe que com ela não se brinca. Ela é tão séria que ninguém a desrespeita. Praticamente exala autoridade e em casa deve ser uma fera.

O outro colega havia me visto e complementou:

– Pode ser, mas eu acho que esse ai é o adestrador da fera.

– Que nada. Ele pode arrumar muita mulher por ai, mas essa eu duvido. Só um mestre poderia estar com a chefe.

Pensei em Carlos, Edna e Tiago. Pensei na Doutora Souza. Pensei em mim. O sangue subiu à cabeça, coloquei minha máscara e dei meia volta.

– Opa. Vocês estão falando de mim, é? Deixe-me contar uma história pra vocês.








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